Início da Primavera junto ao Mar.

Narcissus bolbucodium ssp. obesus

Narcissus bulbocodium ssp. obesus em talude voltado a Poente

N. bulbocodium em fenda rochosa

Anchusa undulata / Narcissus bulbocodium ssp obesus

Duna secundária e cobertura vegetal

Linaria polygalifolia subsp. polygalifolia

Versbascum sp.

Muscari neglectum

Espaço interdunar com passadiços


As dunas e escarpas à volta da vila de São Martinho do Porto são detentoras de um rico património vegetal e têm sido para mim uma espécie de aula viva de botânica, onde retorno várias vezes por ano para por o contacto com a natureza em dia. É sempre aquele sítio perto de casa onde satisfazer os prazeres do botânico sem ter que gastar uma fortuna em deslocações.  Estes sistemas litorais constituem um legado florístico inegável e é por isso difícil de entender porque, nem autarquias, nem juntas de freguesia parecem  ter qualquer interesse em os manter cuidados. O poder autárquico ainda não entendeu o valor do património ambiental e paisagístico que tem em mão: a duna sofre atropelos vários todos os anos e os passadiços necessitam de restauro urgente. Atenção senhores autarcas, nem só de praia e sol vive o turista! 

Mas adiante...Foi então num destes dias de Primavera adiada, com bastante chuva,  que me desloquei mais uma vez até às dunas como já o havia feito noutras ocasiões e até noutras épocas do ano, para descobrir um pouco mais do que se pode encontrar nesta altura de transição entre estações. E não me desiludi. Foi fácil encontrar varias pequenas gemas da nossa flora enquanto percorria as escarpas da costa a Norte da vila e as descobertas continuaram descendo depois para a praia e respectivo sistema dunar. Para alem da flora vascular da qual falarei mais abaixo, impressionou-me a riqueza de briófitas, sobretudo musgos, que aproveitam a humidade que vem da praia e que se deposita por condensação nesta parte da duna. Assim se encontra a duna coberta de pioneiras como os musgos e mesmo líquenes, que dão à duna o curioso aspecto de paisagem que se esperaria encontrar em serranias e não à beira-mar.

O meu primeiro destaque entre as plantas observadas, é um velho "amigo", o Narcissus bolbocodium que habita as escarpas em redor da baía, sobretudo as voltadas a poente: encontra-se muitas vezes nos taludes quase verticais das ravinas que se erguem do mar. Esta é a subespécie obesus, que parece preferir condições mais adversas de habitabilidade, não se importando com os ventos salgados; a secura das ravinas ou o solo argiloso de origem básica, ao contrario da subespécie bulbocodium que prefere solos ácidos e mais nutridos. Aqui nas escarpas é possível ver a pressão de Oxalis pres-caprae sobre esta espécie de narciso, que não compete bem com estas invasoras, estando mesmo a levar a um recuo notório desta espécie face à Oxalis. Em relação a outros anos notei claramente que está a perder terreno e a Oxalis a avançar sobre o ecossistema das escarpas. O N. bulbocodium pode ser cultivado em jardins e conheço várias pessoas que o fazem com sucesso, mas os meus estão a levar muito tempo a florir, talvez estejam expostos a demasiada sombra no sítio onde os plantei ou talvez, mais uma vez, não estejam a competir bem com outras plantas do jardim. Um dos híbridos com grande procura desta espécie é o 'Golden Bells', com flores mais altas e mais robusto, mas com o senão de preferir solos ácidos. Um dos meus preferidos é mesmo o N. bulbocodium 'Spoirot' que tem uma cor marfim bastante elegante, cor esta que se torna bastante desejável para combinações com temas claros.  

Muscari neglectum,  uma pequena bolbosa da família Asparagaceae que aparece já no sistema dunar, mais propriamente na duna secundaria, e que na verdade foi uma autentica surpresa encontra-lo aqui. Parece-me contudo uma população algo dispersa e pouco numerosa, não chegando a uma centena de indivíduos. As Muscari têm um inegável valor ornamental e a versão mais comum em jardins é a Muscari armenicum que é facilmente obtida no nosso mercado. 

Linaria polygalifolia, bela como todas as linárias, mas com a especificidade de viver à beira mar, esta plantagenácea é de facto a rainha da duna primaria durante o início da Primavera, antes de toda a duna dar lugar a um mar de flores estivais, como já antes apresentei aqui. As linárias nem sempre são fáceis de cultivar no jardim aberto, mas há uma em especial que é indicada para o jardim médio e sobretudo em jardins com limitações de disponibilidade de água durante o verão, tal como o meu. Falo de  Linaria purpurea, planta com origem na Península Itálica e Sicília que tem um reconhecido mérito em jardins secos, preferindo solos com boa drenagem e sobretudo que não empapem nos meses mais frios. A variedade alba é detentora de especial beleza e é uma das plantas que procuro para o meu jardim. Mas, existem imensas opções dentro deste género, por exemplo, a Linaria triornithophora planta com origem no nosso país e que foi introduzida já no século XVII em cultivo no Reino Unido. Nesse país, ainda hoje é uma planta que colhe grandes paixões: Beth Chatto exalta as qualidades desta pequena planta que está presente no seu jardim de gravilha, animando-o com as suas belas flores de cor purpura que lembram três pequenas aves. Também a L. dalmatica merece aqui uma referência: é outra bela linária especialmente indicada para o jardim seco onde se impõe pelo seu porte elegante, com folhagem de tom azulado e flores de um interessante amarelo pálido. Como é óbvio, se quiser experimentar alguma destas linárias não será com plantas com origem em garden centre nacionais que o vai fazer, duvido que algum já tenha ouvido sequer falar em Linaria e muito menos que venham a ter várias espécies diferentes.


Comentários

  1. Your Anchusa is very similar to our capensis.

    Sorry about the invasive Oxalis. Nightmare to control for you.

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    1. Oxalis are obnoxious weeds really, very dificult to control in the garden, but they are also very invasive in the wild and no good at all when growing close to our native flora.

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  2. Adoro as fotos! Ainda ha uns dias vi alguns narcisos desses em flor junto à auto-estrada . Obrigado pela partilha, é bom saber que ainda existem muitos.

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    1. O Narcissus bulbocodium é uma planta relativamente comum, mas não deixa de ser uma verdadeira jóia da nossa flora. Ainda existem bastantes e podem ser localmente abundantes, mas existem tb alguma pressão por parte das invasoras e também destruição de habitat para construção ou cultivo.

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